Fly na Amazônia!

Texto:
A.C.Cravo
Fotos:
A.C.Cravo, Jorge A. Tolaini e Maurício Velho


 
 

       Interessante o gosto pela pescaria. Uma vez o Antonio Lopes, antigo editor da revista Aruanã, me disse que pescaria é uma atividade que se pratica por hereditariedade (vinda de pai para filho) ou por amizade.
 
       Acho que estou nos dois casos, comecei com meu falecido pai e ainda hoje sigo aprendendo com os amigos e graças a Deus “fazendo a cabeça” de alguns outros.
 
       Desta vez não foi diferente, Bastou telefonar para o Jorjão e para o Maurício Velho, informando: - Tô indo flaisar na Amazônia, tão nessa?

 
Aeroporto SP  

       A resposta não demorou nada e logo estávamos preparando tudo, não sem antes do Maurício cooptar os amigos Flávio e Sérgio (irmãos), para essa nossa aventura. A segunda assertiva do Antônio Lopes estava confirmada.
 
       Tô indo flaisar na Amazônia, parece que falava de um lugar logo ali e, no entanto, tamanha a imensidão e distância, que certa vez escrevi isto sobre ele:
 
       “Atualmente pescadores de todo o Brasil, e porque não dizer de vários outros países do mundo vão à Amazônia pescar."

 

        A facilidade proporcionada pelo transporte aéreo, onde basta apenas uma “dormidinha”, para que acordemos lá do outro lado do país, faz com que muitas vezes esqueçamos ou deixemos de considerar a vastidão e a importância dessa região com uma área de 6,5 milhões de quilômetros quadrados e que abrange terras de nove países: Brasil, Bolívia, Colômbia. Equador, Peru, Suriname, Venezuela, Guiana e Guiana Francesa.

 

       Dessa imensa área, 85% ou aproximadamente 5.200.000Km2, pertencem ao Brasil, e por estranha coincidência numérica, envolve também nove estados brasileiros: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e parte do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. Nela caberiam sete Franças ou trinta e dois outros países da Europa.

 
 

       A parte que mais nos interessa, a Bacia Amazônica à exceção dos oceanos é o maior complexo hídrico do mundo e tem o Rio Amazonas como centralizador dessa enorme quantidade d’água, drenada de uma área de aproximadamente 7.000.000Km2, quase duas vezes maior que a Austrália e onde se destacam também outros gigantes como o Negro e o Solimões, seus formadores, acompanhados do Juruá, Purus, Madeira, Tapajós, Xingu e Araguaia/Tocantins pela margem direita e o Iça, Japurá, Trombetas, Paru e Jari na margem esquerda, como decoramos no Grupo Escolar.

 
fonte: http://www.inpa.gov.br/cpca/luizoli/fotos/27_pirarucu.jpg  

       Coroando ou complementando essa imensidão uma flora e uma fauna exuberantes abrigam 20 mil espécies de vegetais, 30 mil de insetos e mais de duas mil de peixes, onde reina absoluto, não o Tucunaré que tanto procuramos e sim o Pirarucu, o maior peixe de escamas do mundo e que pode alcançar (se deixarem), até 3 metros de comprimento.

 

       Esta região apresenta basicamente duas estações climáticas bem definidas, uma seca e outra chuvosa que se inicia na parte Oeste, indo progressivamente para o Leste. A variação das chuvas também faz com que os afluentes da margem direita atinjam seu nível máximo antes daqueles da margem esquerda.

 

       O estudo e a observação destas características certamente não garantirá a pescaria do tão sonhado troféu, mas certamente ajudará, pois a mata inundada, os Igapós, dificultam a pescaria levando os peixes para lugares onde certamente e somente poucos e bons arremessadores teriam sucesso entre milhares.

 
 
fonte: http://www.lateinamerika.de/Laender/images/brasilien/Manaus_Teatro_Amazonas.jpg  

       Manaus, a base maior ou o ponto de partida para essa aventura sonhada por pescadores do mundo inteiro já se destacou no Brasil por outros aspectos econômicos, viveu o ciclo da borracha criando riquezas e fortunas inomináveis para a época, viveu a fase da Zona franca e agora como um verdadeiro pólo para a pesca esportiva e Eco turismo mundiais, que já dividem quase meio a meio o total da receita arrecadada nos diversos empreendimentos dedicados a esses fins.

 

       E lá fomos nós para esse pólo da pesca esportiva realizar o que é seguramente o sonho maior de pescadores do mundo inteiro, flaiseiros ou não. Já havíamos pescado juntos na Patagônia Argentina, onde pela amizade demonstrada para conosco o Maurício Velho confirmou que poderia fazer parte da Conflyria, o que terminou acontecendo ao final desta viagem, quando um convite formal corroborou a opinião dos Confrades. Do Jorjão, nem preciso falar, é o parceiro que todos gostariam de ter.

  Embarque em SP
 

       À pergunta de onde e como iríamos, foi respondida com: Barcelos e Amazônia Rain Forest. E Bastava falar com o Pirituba, que ele arranjaria tudo.
 
       Depois, e apesar de parecer tão longe, o dia 28 de outubro chegou e logo estávamos juntos e impacientes no Aeroporto, enquanto a Piedade fotografava e os ponteiros do relógio pareciam não sair do lugar.
 
       O vôo para Manaus transcorreu sem maiores “problemas” que a minha ida para a classe executiva o que me deixou pensando ante tanta mordomia: Se aqui é assim, como será a primeira classe?

 
 
 
 

       No aeroporto fomos recebidos pelo Maíra e pelo César, proprietários da Amazônia Rain Forest, responsáveis pelo nosso transfer para o Hotel Tropical e pelo nosso embarque para Barcelos, no dia seguinte. Agora era só esperar e curtir as delícias do hotel, logo estaríamos pescando.

 

       No dia seguinte, depois de um vôo de Bandeirante que seguramente me fez lembrar dos tempos da Bda Pára-quedista, logo estávamos prontos para “adentrar” o Forest 1, como poderia dizer um conhecido locutor esportivo.

 
 
Transfer em Barcelos  

       Tão pensando que chegou a pescaria? Não, ledo engano!
 
       Face aos fenômenos conhecidos como “Repiquete” e “Cabeça d’água”, logo estávamos navegando à procura de águas mais rasas, fugindo dos verdadeiros igapós,
 
[Do tupi.]
 
S. m. Bras. Amaz.

 

        1. Mata cheia de água, i. e., trecho de floresta onde a água, após a enchente dos rios, fica por algum tempo estagnada.
 
       Onde se escondiam ou onde pensávamos estar escondidos os Tucunões.

 
 
 
 
 

       Viajamos por mais quatorze horas, tempo que destinamos a preparar o material, a “jogar conversa fora” e a tentar esvaziar a geladeira do barco, num incessante, Paulo, quero uma caipirinha, me dá uma Coca, cadê o meu suco, vai ter Sashimi logo mais?

 

       Na verdade, eu estava a trabalho, acompanhando o ganhador do prêmio oferecido pelas Iscas Artificiais Aicás, através do site Eco Pesca, fato que, no entanto, não impediu a que pescasse junto com o Jorjão no domingo e na terça e com o Maurício na segunda, desfrutando de maravilhosos momentos, fossem pela pescaria, fossem pela amizade.

  Rogério Stick, o sortudo! Flávio e Cravo.
 
 
 

       E assim, logo no café já estava eu chamando o Jorjão, pois os piloteiros já estavam a postos e o dia prometia, fato que se confirmou, pois logo ele pegava um dos bons (pequeno, mas brigador), pouco antes deste dublê. Pescamos mais de dez apenas nesse ponto.

 
 
 
 

       E assim seguimos de ressaca (nome que dão aos braços do rio) em ressaca acrescentando aqui e ali mais um Tucunaré na coleção, tudo isto sem falar nos lagos, que mesmo escondidos não ficavam incólumes, entrávamos em todos.

 
Dois no bait.   Jorjão
 

       Com o Maurício, daqui para frente carinhosamente nominado MV, a pescaria continuou no mesmo ritmo, nada grande, mas em quantidade. Fato que se não nos alegrava muito, pelo menos nos fazia esquecer que possivelmente daqueles tamanhos, pegaríamos aqui mais perto de São Paulo, mas garanto a vocês que um Paca de dois quilos, bate de longe quaisquer dos outros de três ou quatro, são verdadeiros torpedos.

 
 

       Nesse dia, pesquei o meu “maior”, o diabo do Paca inventou de ir para os paus e somente depois de muito trabalho do MV e do piloteiro, o danado foi para o meio do lago e saiu na foto. Há quem não acredite na possibilidade de dois pescadores de fly, pescarem juntos no mesmo barco. Se o seu parceiro só pescar de bait, certamente ele estará sempre assustado.
 
       Mas no nosso caso não tivemos problema, embora vez por outra um Clouser passasse assobiando um pouco mais perto.

 
 
 

       O Jorjão e o Maurício Velho, tiraram a “barriga da miséria”, mesmo não tendo pescado exemplares acima de quatro quilos, fizeram a limpa em várias ressacas, parecendo uma dupla de sapos cantando no brejo: “fisguei, eu também! Fisguei, eu também, Fisguei, eu também!.

 
 
 
 
 

       Poderia continuar este texto por várias páginas mais e ainda assim não conseguiria relatar a nossa satisfação pela pescaria e pelo fato de estarmos juntos, lá no “fim do mundo”.
 
       Longe de casa e num local estranho é que se pode aquilatar a qualidade de um companheiro e seguramente esses meus confirmaram tudo que eu já sabia deles.
 
       Obrigado Jorjão e Maurício Velho, até a próxima!
 
       ACCravo
 
       PS: Na Argentina, é claro!

 

Equipamento Utilizado

 

Varas: Titan e Peacemaker número 8, da Fleming.
 
Carretilhas: Plus 8, da Fleming.
 
Linhas: Flutuantes, intermediárias e sinking tip (Teeny 200)
 
Moscas:
By Cravo   By 100

Só usei estas cinco.

 
 

Mais Fotos:

 
Que sorte, achei a pista!   Jorginho com um do Cravo.
 
Ninho de Tucunaré   Jacundá
 
O Forest 1   Se melhorar estraga.
 
Lembranças!   Lembranças!
 
Pô, não fui nessa!   Fly é fogo.
 
Que calor!   Cadê o peixe?
 
Bicudinha.   Arraia.
 
A praia.   Tá bom Jorjão?
 
Tá bom Cravo?   Churrasco na praia.
 
Churrasco na praia.   Fominha.
 
Quer um gole?   Sala de comando.
 
O grupo.   Transfer para o aeroporto.
 
Antes da decolagem.   Depois da decolagem.
 
Montana no bait.   Barcelos (beira do rio).
 
Que calor!   Cave´s do 100.