Caraguatatuba - Um Sucesso Inesperado!
 

Texto e Fotos: Sergio E. Marchioni (100)
E-mail do autor: pescacommosca@uol.com.br


 

       Muitas vezes pescarias excessivamente programadas não dão certo, seja por ansiedade ou mesmo por obra do destino. O que aconteceu comigo também não foi muito diferente.
 
       Acertamos uma viagem com certa antecedência para realizar várias pescarias diferentes de caiaque com o pessoal da revista da qual sou consultor, para a elaboração de mais uma matéria sobre pontos de pesca próximos a São Paulo, cujo intuito era demonstrar que, com bem pouco investimento, conseguimos nos divertir e fisgar bons peixes.
 
       O destino era Caraguatatuba, porta de entrada para o Litoral Norte Paulista, distante 182 km da capital de São Paulo. Com uma população de quase cem mil habitantes, é o maior município do Litoral Norte.
 
       A semana que antecedia a viagem estava com o tempo firme e muito sol, porém com a aproximação do dia da viagem, o tempo mudou completamente, com instabilidades durante o dia e à noite. Quanto mais perto, mais chuva. Em vista disso, houve a desistência de nossos parceiros e também do editor da revista que iria fazer as fotos.
 
       Eu dificilmente desisto de uma pescaria e dessa vez não foi diferente. No dia anterior a viagem, Elias, meu parceiro nesta incursão me ligou confirmando a desistência dos outros e fez a pergunta fatídica:
 
           - Continua chovendo muito por lá, vamos mesmo assim?
 
       Minha resposta foi pronta no sentido de não desistir. Afinal, não somos feitos de açúcar para derreter com a chuva, além disso, as capas de chuva foram inventadas há muito tempo.
 
       Você pode até se perguntar se este tempo não influenciaria a pescaria. Dependendo da ocasião e dos fatores envolvidos, pode influenciar negativamente sim, mas em uma pescaria, apesar do peixe ser o foco principal, nem sempre ele é a figura mais importante, sendo sobrepujado pela beleza do lugar, do passeio e principalmente pela amizade.
 
       Nossa idéia era realizar várias pescarias diferentes de caiaques, em mangues e costões.
 
       Saímos com chuva e ela nos acompanhou o tempo todo em nossa viagem. Por conta disso, resolvemos que a pescaria do dia seguinte seria realizada no mangue em busca dos robalos. Essa decisão deveu-se a chuva, pois com seu aumento era certo que a água em breve estaria suja, prejudicando totalmente a pescaria do robalo nessas condições.
 
       Chegamos em nossa base à noite e deixamos tudo preparado para a aventura do dia seguinte. Mas como todo bom “fominha”, perguntei ao Elias:
 
           - Por que não ir agora na barra do rio dar uns pinchos em busca do robalo?

 

Parte I - A Pescaria Noturna

       É certo que as pescarias de robalo à noite são bastante efetivas, porém pouco praticadas. Então, nada melhor do que aproveitar aquela chance e comprovar a eficácia do horário.
 
       A maré estava começando a encher e a probabilidade de pegar os robalos entrando no mangue era muito boa. Para tal, fiz a opção por um equipamento número oito, já que é bem comum enfrentar um pouco de vento na barra dos rios e também tinha a intenção de arremessar iscas um pouco maiores e lastreadas. Escolhi uma linha intermediária, pois ficaríamos pinchando da areia e a isso associado teria o movimento da maré entrando no mangue. Esse tipo de linha, nesta condição, traz o benefício da isca não vir completamente na superfície.
 
       Como sou adepto da regrinha que diz: água escura e/ou noite, isca escura; água clara e/ou dia claro, isca clara. Está certo que todos sabemos que na pescaria não há regras rígidas, mas ela já fornecia um bom começo. Portanto, a primeira isca a utilizar foi um Clouser Minnow preto. Isca muito efetiva aliado ao seu peso que ajuda a isca vir mais no fundo.
 
       Quanto ao líder, usei um de sete pés e com shock tippet de 40 libras (fluorocarbono). Gosto de líderes curtos na pescaria de robalos principalmente no mangue, pois isso ajuda a arremessar as iscas por baixo das estruturas.
 
       O Elias fez a opção pelo bait casting com uma isca de meia-água e eu logicamente pelo fly.
 
       A pescaria foi realizada arremessando da praia perpendicularmente à corrida da maré no rio. Esperava a isca afundar um pouco e fazia um recolhimento rápido. É bom sempre no início de uma pescaria testar as formas de recolhimento, assim como a profundidade para descobrir o hábito do peixe naquele dia e local.

 
 
 

       Como não havia tido qualquer ação, troquei o Clouser por uma Beach Fly preta. Esta isca viria um pouco mais na superfície e quem sabe atrairia com mais eficiência o rei do mangue. Não demorou muito para ter a primeira ação. Aliás, suponho que tenha sido, pois poderia ter sido algum detrito que tivesse resvalado na isca ou na linha e com a corrida da maré tivesse dado essa impressão, já que naquela noite não havia possibilidade alguma de se enxergar, visto que com o tempo nublado, a noite estava muito escura.
 
       Alguns arremessos depois, o presente chega com uma batida seca e firme na isca. Após alguns minutos de luta, este belo robalo peva deu o ar da graça para sair na foto.
 
       Mais alguns pinchos e resolvemos voltar para nos prepararmos para a pescaria do dia seguinte, porém, como aquele dever mais do que cumprido, demonstrando a eficiência da pescaria noturna em busca do robalo.

 

Parte II - A Pescaria no Mangue

       Nosso alvo era o robalo no rio Escuro. Apesar da chuva nos dias anteriores, ela não foi suficiente para sujar o rio por completo, então tínhamos boas chances de realizar uma boa pescaria.

 

       Como nos adiantamos um pouco no horário o rio estava muito seco, portanto, resolvemos dar uns pinchos no costão.
 
       Caiaque carregado com os apetrechos: bolsa com material de pesca, sacola térmica com comida e líquidos, passaguá, máquina fotográfica, vara e logicamente o companheiro inseparável das pescarias de caiaque – o salva-vidas.
 
       Como a intenção era a pescaria no mangue, o equipamento escolhido foi um de número seis, líder sete pés e shock tippet de 30 libras.

 
 
 

       Em nossas primeiras remadas no mar rumo a parte mais afastada do costão, comprovamos a beleza do lugar e principalmente a exuberância da mata atlântica que nos rodeava. Toda a pescaria de caiaque proporciona muita paz e interação com a natureza a nível muito profundo.
 
       Nesta pescaria de costão, optei por utilizar linha sinking para poder atingir maiores profundidades.
 
       As iscas mais utilizadas foram Clouser Minnow nas cores rosa, branco e azul, Woolly Buggers brancos com bead head e principalmente a Beach Fly branca com brilho perolado e prateado, aliás, sou fã dessas iscas, pois em dias com bastante iluminação, refletem muito chamando a atenção do peixe, além de serem muito duráveis e fáceis de serem arremessadas.

 

       Navegamos por boa parte do costão, encontrando lugares belíssimos, muito promissores e que certamente seriam inatingíveis pelas pedras e, se não fossem os caiaques, não os conheceríamos. Apesar do lugar lindo de aparência, apenas pequenos peixes como xaréus e pampos apareceram, porém, isto de modo algum tirou o brilho daqueles momentos, já que estes, apesar do seu tamanho, são adversários valorosos na ponta da linha.
 
       Com a hora avançando e a maré mais cheia, começamos a voltar para entrar no rio em busca do robalo. A pescaria no mangue é bastante técnica, onde arremessos precisos são quase sempre necessários para a obtenção de sucesso.

 
 

       A linha utilizada foi uma flutuante e como iscas: Beach Fly branca, Ultra Shrimp, Poppers e Divers.
 
       A pescaria foi muito farta em relação a quantidade, porém não satisfatória no quesito tamanho.

 
 
 

Parte III – Pescaria no Costão do Maranduba

       Depois do sucesso das últimas pescarias, o local a ser explorado foi o costão do Maranduba. Neste local deságua o rio Maranduba, dando como certa a presença de robalos. Logo no início do costão e próximo à barra, há um conjunto de pedras e lajes submersas, habitat de muitos peixes. Ali é bastante difícil a pesca das pedras, assim como de barco, mas estávamos com o meio mais indicado para aquele local, o caiaque. Com ele podíamos cobrir todos os locais e profundidades com bastante tranqüilidade em busca dos peixes, objeto de nossa incursão.

 
 
 
 

       Logo nos primeiros pinchos, surpresas e mais surpresas. Robalos na ponta da linha. Às vezes ocorrem coisas engraçadas, pois nesse dia eu praticamente não fisguei peixes, porém o Elias fez a festa. Iscas, linhas, pinchos, aproximações iguais, mas eles insistiam em desprezar as minhas iscas. Detalhe, fui eu quem atei as iscas que o Elias estava usando, então, simplesmente não há explicação plausível. E o mais engraçado é que essa situação ainda iria se inverter nos dias subseqüentes.

 
 
 

       Por causa da pouca profundidade e a enorme quantidade de pedras e consequentemente enroscos, a linha escolhida foi a flutuante. Como iscas – Beach Fly, Deceiver, Woolly Bugger, mas certamente as mais efetivas nesse lugar foram as Clouser Minnow nas mais variadas cores – rosa, branco, verde limão, laranja e azul. Como nesse tipo de pescaria a gente nunca sabe muito o tamanho do peixe que pode entrar e aliado a isso condições de vento intenso, escolhemos um equipamento número oito e líder entre sete e nove pés.

 
 
 
 
 

       Além do vento, marolas nos brindavam sempre, o que fazia com que tivéssemos que usar âncoras para ficar mais tempo no mesmo lugar e não acabar em cima de uma pedra cheia de cracas, o que certamente danificaria nossos caiaques. Aliás, esse é um dos cuidados que deve ser sempre observado, pois estes realmente podem fazer cortes profundos em seu caiaque.
 
       Com tanto sucesso nesse ponto, resolvemos continuar as pescarias subsequentes no mesmo local.
 
       Dia seguinte lá estávamos nós naquele lugar mágico. A diversidade de peixes era grande; robalos, xaréus, baiacus, badejos mira, galos, pampos, caranhas, sargos de beiço, carapaus, guaiviras. Com esse sortimento não havia como não dizer que fomos abençoados nesta pescaria.

 
 
 

       As iscas eram trabalhadas com pouca velocidade. Um pouco deiferente dos costões, onde no geral, a velocidade é ponto fundamental no trabalho das iscas. Ainda batemos mais alguns costões e rodeamos por completo a ilha em frente (Ilha de Maranduba), jogando nossas iscas em todos os pontos possíveis, mas realmente só não foi perda de tempo por causa das boas remadas e do passeio de caiaque, pois peixes mesmo, só nas pedras e lajes próximas à barra do rio Maranduba. E ali, além da quantidade, uma diversidade muito grande.
 
       Esta pescaria é uma daquelas que ficam na história; muito pouco se esperava dela, porém foi completa em todos os seus quesitos: amizade, diversidade de espécies, quantidade, interação com a natureza e acima de tudo, respeito total ao meio ambiente usando um meio de locomoção não poluidor – o caiaque.
 
       Fica aqui meu agradecimento à Lindaura que me acolheu tão carinhosamente e jamais vou esquecer das delícias que comi por lá, principalmente daquela mariscada.