Entrevistas & Novidades

 
Paulo Cezar Domingues
 

     Dono de um senso de humor genial e uma paciência sem limites o grande pescador de Fly Paulo Cezar Domingues Silva, nascido e residindo no Rio de Janeiro abri esta seção com todo o merecimento que lhe convém. Agradeço-lhe mais uma vez pôr sua atenção para comigo.

  

Jonas - Exatamente quando (data) e onde você conheceu a pesca com mosca ?
Paulo - Essa é uma pergunta indiscreta. Vou ter de revelar minha idade. Não posso precisar a data exata, mas foi no final da década de 40. Quando saia do colégio eu passava pôr uma livraria e comprava ou filava as revistas americanas Outdoor Life, Sports Afield e Field & Stream. Foi lá que tomei conhecimento dessa modalidade de pesca tão cativante.
 
Jonas - Neste momento você já adquiriu seu primeiro conjunto? e que modelo e marca eram?
Paulo- Não. Mas pôr um golpe de sorte, um amigo meu, pescador de beira de praia, importou, pôr engano, uma vara de fibra de vidro Shakespeare Wonderod, de 2 seções e 7'9" de comprimento e uma carretilha Bristol. Essa última, era talvez, a mais barata que havia. A linha, se não me engano, era uma Ashaway flutuante, de seda, que encontrei numa loja de pesca aqui. Porque o dono da loja importou naquela época, essa linha, é um mistério para mim. Era a única na vitrine. Gostaria de saber o que passou pôr sua cabeça quando se livrou dela. Naquela época, ninguém sabia o que era pesca com mosca.
 
Jonas - Nesta época você já imaginava pescar aqui no Brasil com mosca?
Paulo - Não, mas eu precisava ter aquele equipamento que me atraia tanto pela sua beleza e leveza.
 
Jonas - E quais foram os primeiros peixes que você capturou com mosca?
Paulo - Trutas na Serra da Bocaina e, posteriormente, no Rio Macaé de Cima, perto de Mury, no Estado do Rio de Janeiro.
 
Jonas - Como você deve saber a matéria ABC do Fly que saiu na revista Bíblia do Pescador foi o grande impulso que houve no esporte ou seja você foi um dos que incentivou a modalidade aqui no Brasil, como foi possível sair esta matéria naquela época?
Paulo - Acho que eles estavam sem matéria para publicar.
 
Jonas - Quais os países que você já esteve pescando com mosca?
Paulo - Argentina, Chile, Bolívia, Costa Rica, Belize, México, Estados Unidos, Kiribati (Christmas Island).
 

 

  

Jonas - Qual o peixe que lhe da mais prazer em pesca-lo? tanto na água salgada como doce.
Paulo - Essa é difícil de responder. Acho que todos, pois cada um vive num habitat diferente, as técnicas de pesca e moscas são diferentes e todos fornecem emoções distintas.
 
Jonas - Qual o maior prazer? pescar ou atar?
Paulo - Pescar sempre. Comecei aos 6 anos de idade na Lagoa Rodrigo de Freitas.


Jonas - Qual o mais difícil? e porque?
Paulo - Talvez o robalo. Mesmo quando você faz tudo certo ele só morde quando quer. Outro muito difícil é o tarpão ou camurupim. Passei uma vez uma semana em Islamorada, na Flórida, e não consegui trazer nenhum até a borda do barco. É verdade que vi muitos, fisguei alguns e os fiz pular várias vezes. Mas tirar o anzol da boca e soltá-lo - nada.
 
Jonas - E o atado começou quando?
Paulo - Quando vi que cada mosca de truta custava, naquela época, cerca de $.50 a .70 de dólar.
 
Jonas - Hoje pode ser difícil encontrar materiais para atado mas naquela época adaptar era uma obrigação?
Paulo - Certamente. Cortei muita tirinha de mylar da parte interna de saco de batata frita para fazer streamers.
 
Jonas - Quais as moscas prediletas?
Paulo - Para fazer ou para pescar? Para fazer e pescar, gosto muito das moscas secas. Elas oferecem mais desafios ao atador tanto pelo seu tamanho como pela necessidade de serem feitas com as dimensões corretas.
 
Jonas - Quem dos grandes mestres internacionais você já conheceu? e qual o mais simpático?
Paulo - O mais simpático e amável é sem dúvida nenhuma meu amigo de longa data, Mel Krieger. Você se sente à vontade com ele desde o primeiro minuto. Outros que conheci apenas superficialmente foram Lefty Kreh (um gozador de marca maior), Mark Sosin, Chico Fernandez, Stu Apte, Steve Rajeff e A.J.McClane.
 
Jonas - Nos últimos anos você tem visitado as Bahamas para pescar bonefish, seria lá o seu paraíso?
Paulo - Não. O meu paraíso é Christmas Island. O atol mais lindo e selvagem que conheço é o paraíso para quem quer aprender e pescar seu primeiro bonefish.
 
Jonas - Ainda sonha em pescar em algum lugar paradisíaco?
Paulo - Enquanto estiver vivo estarei sonhando. Como sonhar é grátis, sonho com a Nova Zelândia (truta), Ilhas Seychelles (bonefish) e Honduras (sernambiguara ou permit).
 
Jonas - Para terminar gostaria de agradecer em meu nome e de todos aqueles à qual você ajudou e incentivou, mas eu gostaria que você colocasse algumas palavras para aqueles que estão começando.
Paulo - Antes de mais nada, gostaria de dizer a você, pescador iniciante na pesca de mosca, que você está embarcando no esporte mais viciante que existe. Você encontrará nele muitos desafios que não existem nas outras modalidades e estará sempre aprendendo alguma coisa nova. Como Mel Krieger costuma dizer, na pesca com mosca você não tem prazer só na hora que fisga o peixe, mas em cada arremesso feito. Seja seu adversário um lambari atacando uma mosca seca imitando uma formiguinha ou um tarpão de 50kg sugando um streamer a um metro do barco, você terá emoções que não teria com outro equipamento. Gostaria também de dizer, como palavra final: Compre uma vara de pesca de boa qualidade. Este conselho é importantíssimo. Um caniço vagabundo fará você desanimar do esporte em pouco tempo.
 

Entrevista e foto : Jonas
04/03/2002