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Beto Saldanha
 

     Beto Saldanha um carioca nascido em 1941 começou a pescar aos 5 anos hoje é um apaixonado pescador de trutas, velejador, rodbuilder nas horas vagas, tudo isto e um pouco mais. Pescando com mosca a mais de trinta anos ele nos mostra um pouco deste grande esporte.

  

Jonas -Como foi a sua descoberta da modalidade de pesca com mosca?
Beto Saldanha - Boa parte de meus tios (eram muitos) adoravam caçar e sempre levavam lá para o sitio uma revista chamada Field and Stream. Naquela época eu pescava mesmo era lambari com anzol mosquito e miolo de pão bem amassado (coisa que ainda gosto muito de fazer). Mas achava as moscas e as trutas , que apareciam na F&S, lindas.
 
Jonas - Em que ano foi isto?
Beto Saldanha -Devia ter uns 8 ou 10 anos , quer dizer deve ter sido por volta de 52.
 
Jonas - Como foi possível conseguir o primeiro equipamento nesta época?
Beto Saldanha - Só vim a comprar o primeiro equipamento bem mais tarde, por volta de 68 . Comprei de um americano que estava voltando para os Estados Unidos. Era uma vara Langley de 9´ pés e uma carretilha daquelas de dar corda - tudo pesadíssimo.
 
Jonas - Lembra qual foi o primeiro peixe?
Beto Saldanha - Claro! O primeiro peixe pego com uma mosca não se esquece. Costumava ir caçar nhambú em Friburgo e fiquei sabendo que haviam trutas no Rio Macaé de Cima. Normalmente usava Mepps, mas um dia resolvi experimentar aquela vara. Deve ter sido bem engraçado, não tinha a menor ideia de como arremessar, a toda hora prendia nas árvores e cravei a mosca no pescoço, essas coisas... mas acabei pegando uma trutinha. Foi o peixe mais emocionante que já pesquei.
 
Jonas - E o atado como surgiu?
Beto Saldanha - Comprei um kit da Herter's ( era uma grande loja de venda pelo correio) e comecei a amarrar minhas moscas. Nesta época um amigo (Ismael Cardin) se interessou por pesca de mosca. Como ele atava compulsivamente eu acabava herdando as sobras. Resultado, nunca pratiquei e ato muito mal.
 
Jonas - E as adaptações de materiais eram muitas?
Beto Saldanha - Só usavamos equipamento de mosca para as trutas, e logo descobrimos que as ninfas eram muito produtivas . O pouco que não conseguiamos por aqui mesmo mandavamos vir pelo correio. Naquela época com 20 dólares você comprava material para o resto da vida.
 
Jonas - Em que ano foi a sua primeira pescaria na Argentina e como isto aconteceu?
Beto Saldanha - Por volta de 70 estava em Buenos Aires para correr uma regata Buenos Aires-Rio e um Argentino me falou das trutas do Chimehuin. Uns 2 anos depois fui para Bariloche, aluguei um Citroen " deux chevaux " e depois de muito procurar acabei chegando na Hosteria Chimehuin. Foi amor a primeira vista e que dura até hoje.
 
Jonas - Fora a Argentina você já esteve pescando em outro país?
Beto Saldanha - Só no Chile mas prefiro a Argentina.
 
Jonas - E no Rio de janeiro, onde você pesca e quais os peixes prediletos?
Beto Saldanha - Para mim pescar de mosca é dentro d'água. Não gosto muito de pescar embarcado ou com grandes streamers, isto naturalmente limita muito e acabo pescando pouco. No Rio Macaé de Cima as trutas foram dizimadas. As piabanhas da bacia do Paraiba do Sul também estão raras. Na Bocaina só os Rios Gavião e Mambucaba continuam bons (não acho muita graça na pesca em represa) e para chegar lá, até em lombo de mula é preciso andar. Às vezes pesco uns robalinhos , badejos e pampos em Angra dos Reis. Infelizmente do jeito que as coisas andam pelo Rio, esta mais fácil ir para São José dos Ausentes - RS ( excelente programa) ou para Argentina.
 
Jonas -O amigo Gregório ( Lê ) me revelou que você é um exímio Rod builder com blanks de bambu, como surgiu mais esta arte?
Beto Saldanha - Conheci uma velha loja em Paris ( Maison de la Mouche -estando por lá vale a pena visitar) que é lotada de varas da Pezon et Michel , fiquei encantado , mas elas eram muito caras para meu bolso. Lá no inicio dos anos 80, li um artigo sobre como elas eram fabricadas. Fiz um gabarito de madeira, arranjei um pedaço de bambu (desses de fazer móvel) e uns 30 dias depois ela estava pronta. Não ficou nenhuma obra prima, mas fiquei muito orgulhoso e pesquei muita truta com ela. Agora isto de exímio rod builder... vamos lá, é um grande exagero do amigo Lê.
 
Jonas - Podem os bambus aqui do Brasil serem boa matéria prima para os blanks?
Beto Saldanha - Escolhendo bem dá para fazer varas razoáveis, mas com certeza não é igual ao Tonkin.
 
Jonas - Quais as qualidades que você vê em uma vara de bambu em relação a uma de grafite?
Beto Saldanha - Só a beleza e o prazer de pescar com uma vara feita por você mesmo. São caríssimas ( o preço para uma boa vara anda variando de 800 a 3.000 dólares) e com certeza não são para quem quer arremessar moscas grandes ou muito longe. Mas para arremessos curtos (até uns 15 m) elas carregam com muita facilidade e fazem arremessos muito delicados. São mais pesadas, mas em varas até uns 7' ½" pés isto não importa. Faço varas de bambu porque gosto de trabalho manual , acho elas bonitas e estou mais preocupado com prazer do que com eficiência.
 
Jonas - Hoje no Japão existe muita gente montando varas de bambu, seria isto apenas mais uma moda?
Beto Saldanha - Nos Estados Unidos mais ainda. Se é modismo, esnobismo, saudosismo... Deve ser um pouco de cada um desses ismos. Mas varas de bambu, em circunstâncias adequadas, e respeitando-se suas limitações, podem ser muito prazerosas.
 
Jonas - Como você descreveria o fly neste momento no Brasil? acredita que ele deverá crescer muito ainda?
Beto Saldanha - Não tenho muita informação, mas aparentemente bastante gente tem se interessado pela pesca com mosca e com a ajuda da internet e o bom trabalho de vocês todos acredito que venha a crescer, mas não acho que o número de adeptos chegue nem perto de outros tipos de pescaria.
 
Jonas - Algum outro passatempo?
Beto Saldanha - Corro regatas de barco a vela desde os 15 anos, corri a minha primeira Buenos Aires - Rio aos 17, caçava bastante, estudei engenharia, gosto de marcenaria, sou guloso e aprecio (em quantidades civilizadas) uma boa bebida, cozinho razoavelmente bem e gosto de tratar todo mundo com respeito e carinho mas as moças recebem tratamento melhor.
 

Entrevista: Jonas
Foto: Beto Saldanha