Flyfishing na Eslovênia
 

Texto e Fotos: Fernando Antonio Cavanha Gaia


 

       Como sempre acontece nas minhas viagens de férias com a família, procuro reservar ao menos um ou dois dias para, como diz um velho amigo, “esticar uma linha no ar”, ou seja, pescar um pouquinho... De preferência, trutas com equipamento de mosca.
 
       Nesse último mês de julho estive viajando pelo norte da Itália e, após pesquisar pela internet, resolvi tentar a sorte na Eslovênia. Pelas informações que havia obtido, a Eslovênia, país que até 1991 pertencia à antiga Iugoslávia, é apontada como sendo a detentora da segunda maior cobertura de florestas naturais da Europa, ficando atrás apenas da Finlândia. Considerando que parte significativa do país nórdico está permanentemente gelada, podemos concluir que a Eslovênia possui o máximo que a Europa pode oferecer em matéria de natureza intocada. E grande parte dela situada na região alpina, vale dizer, repleta de riachos hospitaleiros para trutas e demais salmonídeos.

 

       As expectativas, portanto, eram bastante promissoras. Todavia, como eu já estava escaldado por experiências anteriores na Europa não exatamente bem sucedidas, cerrei fileiras com São Tomé e preferi ver para crer. E dessa vez, felizmente, não me decepcionei: o país é belíssimo, o povo hospitaleiro e, apesar do esloveno ser uma língua impenetrável, as pessoas, principalmente os mais jovens, mas também muitos dos mais velhos, falam um bom inglês, o que permite uma comunicação sem maiores problemas. E, o mais importante, a pesca é ótima!

  Pinchando no rio Sava
 
Grayling no rio Sava  

       OS RIOS
 
       A Eslovênia abriga, basicamente, duas grandes bacias hidrográficas, batizadas com os nomes dos seus dois principais rios: a do rio Sava e a do rio Soca (pronuncia-se “tchoca”). Esses rios tem características distintas: enquanto o Sava deságua no Danúbio, o Soca corre para o Adriático. Nas semelhanças, ambos são rios alpinos, rasos, incrustrados em “canyons” profundos (mais o Soca, menos o Sava), o que significa pouco vento, e que permitem, como regra, um vadeio confortável e seguro.

 

       Pelas suas características, no entanto, não são rios que possibilitam as famosas “flotadas” às quais estamos acostumados aqui na nossa (que me perdoem os hermanos argentinos) Patagônia.
 
       Nessa minha pescaria de apenas dois dias, um deles foi dedicado ao Sava e outro ao Soca e a um seu afluente, o Lepena.

  Rio Sava
 
Truta Arco-Íris   Truta do rio Sava
 
Truta Arroio (fontinalis) do rio Sava  

       OS PEIXES
 
       Embora a fauna ictiológica eslovena comporte outras espécies, como lúcios, barbos, carpas e percas, as quais proporcionam, também, excelentes pescarias, concentrei-me, como o tempo era curto, apenas nas jóias da coroa, vale dizer, nos salmonídeos. Distribuídos pelas duas bacias, encontramos na Eslovênia os salmonídeos autóctones e os que lá foram introduzidos pelo homem. No rol desses últimos estão a truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) e a belíssima truta de arroio (Salvelinus fontinalis).

 

       Os autóctones estão representados pela truta marrom (Salmo trutta fario), pela impressionante truta mármore (Salmo trutta marmoratus), cuja população está restrita à bacia do Soca (não aparece no Sava) e a alguns poucos rios do nordeste da Itália, pelo peculiar grayling do Adriático (Thymallus thymallus) e pelo igualmente diferenciado huchen ou salmão do Danúbio (hucho hucho), mesma espécie que aparece nos rios da Mongólia e Rússia, lá batizada de taimen e que na Eslovênia é encontrado apenas na bacia do Sava.

  Arco-Íris do Rio Soca
 
Grayling do rio Soca   Truta Mármore do rio Labate
 
Arco-Íris do rio Soca e ao fundo as pessoas tomando sol, demonstrando a temperatura aprazível  

       A PESCARIA
 
       A temporada de pesca é bastante extensa na Eslovênia. Embora variando de rio para rio, podemos dizer que para as trutas e para o grayling, ela vai de abril até novembro e para o salmão do Danúbio, de dezembro a fevereiro. Para nós, brasileiros, creio que os melhores meses, principalmente por conta do clima e da temperatura, são os de junho, julho e agosto. Com efeito, pesquei na segunda semana de julho e o tempo estava ótimo: muito sol, sem vento e com uma temperatura de mais de 30°, que permitiria pescar até sem o wader, apenas calçando as botas de vadeio.

 

       Como eu não sabia o que me esperava, levei varas # 5, de 7’ e 9’. Todavia, pela característica dos rios e pela pouca incidência de vento, é possível, sem dúvida, utilizar equipamento mais leve, algo como #2 ou #3.

  Arco-Íris do Rio Soca
 
Grayling do rio Sava  

       Para os apreciadores, como é o meu caso, de varas mais lentas e curtas, inclusive aquelas de bambú e de fibra de vidro, os rios eslovenos são o paraíso. Com efeito, como não há necessidade, como regra, de arremessos mais longos, uma vara para linha floating DT ou WF 2 ou 3, de ação progressiva, entre 7’ e 8’, parece-me a tralha ideal. Refiro-me, claro, à pescaria de trutas e grayling. Com o salmão do Danúbio a conversa é outra. Como são peixes que chegam a tamanho e peso consideráveis (existem relatos de exemplares com 1,40 m. e 22 kgs.), a tralha precisa ser mais parruda (varas 9’, entre # 7 e # 9, armadas com linhas sinking tip de 300 ou 400 grains, para o arremesso de streamers grandes).

 

       Na minha pescaria de trutas e de graylings utilizei, portanto, varas de 7’ e 9’, com linha WF floating. Pelo fato de a água dos rios ser extraordinariamente cristalina, a pescaria é feita, em grande parte, avistando-se os peixes. O que, se por um lado é muito interessante, por outro é bastante desafiador, vez que a aproximação necessita ser muito cuidadosa e os arremessos absolutamente precisos. Além disso, há a necessidade de se utilizar líderes longos (ao redor dos 12’) e de prestar muita atenção ao “mending”, para que a mosca seja apresentada ao peixe na forma de um perfeito “dead drift”, sem o menor “dragging”. A truta mármore, por exemplo, é bastante tímida, o que significa que, a menos que tudo – aproximação, arremesso, mending e apresentação – aconteça da forma mais natural, nada de fisgada!

  Truta Mármore do rio Labate
 
Grayling do rio Sava  

       Como não nos deparamos com ação na superfície, a pescaria foi realizada tão somente com ninfas (pheasant tail, principalmente, # 14, 16 e 18, com e sem bead head) e, em algumas situações (por exemplo, captura de graylings em águas mais rápidas), com a adição de um pequeno chumbo ao líder.

 
Arco-Íris do rio Soca   Arco-Íris do rio Soca
Rio Sava   Truta Arroio do rio Sava
 

       SERVIÇO DE GUIAS
 
       Para essa rápida jornada de pesca na Eslovênia, utilizei-me dos serviços do guia Rok Lustrik (www.lustrik.com), extremamente competente e profissional, inclusive disponibilizando, por um módico acréscimo na diária, todo o material necessário (varas, linhas, waders, botas) para aqueles que não desejarem levar o próprio equipamento.
 
       As moscas, todas elas atadas pelo Rok, são fornecidas sem nenhum acréscimo.

  Arco-Íris do rio Labate
 

       Para não dizer que não existe um senão, achei a licença de pesca um tanto cara – 70 euros por dia! Não fui mais fundo na informação, mas parece que um período mais prolongado de pesca reduziria essa diária para 45 euros.

 
Rio Soca  

       COMO CHEGAR
 
       Como estava viajando pelo norte da Itália, cheguei à Eslovênia a partir de Veneza, em um trajeto de três horas (300 km.) por ótimas estradas. Fiquei hospedado em Radovlejica, pequena vila perto de Bled, cidade turística situada no noroeste do país, famosa pelo seu belíssimo lago. Para a pesca no Sava, não gastamos mais que dez minutos de estrada, estacionando o carro na beira do rio. Já para irmos ao Soca, tivemos que cruzar os Alpes, por uma estrada sinuosa, o que nos tomou uma hora e meia de viagem, compensada pela paisagem exuberante. Quem tiver pouco tempo para pescar e preferir correr atrás das trutas mármore do Soca, eu recomendo mudar o itinerário e ficar hospedado na cidade de Most na Soci, a qual fica bem mais perto de Veneza (180 kms.), embora com um trecho maior em estradas vicinais (por volta de duas horas e meia de viagem).

 

       De qualquer modo, Ljubljana, a capital e principal cidade da Eslovênia, recebe vôos das maiores cidades européias e fica a 55 km. de Bled e 100 km. de Most na Soci.
 
       Resumindo, a Eslovênia representa uma excelente alternativa para a pesca com mosca no continente europeu, tanto para os que estão por lá passeando ou a trabalho e gostariam de dar uma escapada para pescar, como para aqueles outros que se interessarem por organizar um roteiro dedicado exclusivamente à pesca.

  Rio Soca