Esteros Del Iberá, cada vez melhor....

Texto e Fotos: Ricardo “Tita” Kroef
E-mail do autor: kroef@terra.com.br


O Lugar
 
 

       Na minha modesta opinião, a melhor pesca do mundo é a de trutas selvagens, em rios, na modalidade de fly fishing. Pesca técnica, inteligente, e num ambiente de rios de águas cristalinas e frias, caminhando no rio.
 
       A leitura do rio, a descoberta dos hatches, o entendimento do comportamento dos peixes, etc..., são o resumo do que há de observação, bom senso, estratégia,etc.. Enfim, quase uma coisa perfeita, e seria realmente perfeita, se o peixe fosse o... DOURADO!!!
 
       É aí que eu quero chegar. Em andanças pelo mundo em busca de peixes, pesca e emoções, posso dizer que não experimentei, até agora, luta com peixe mais fascinante que o nosso dourado, sua majestade dos rios.
 
       Em matéria de pesca de dourados, considero a região dos Esteros Del Ibera, na província de Corrientes, Argentina, o mais belo e perfeito local para o encontro com este peixe fantástico.

 
 

       Faz algum tempo que, quando posso, vou aos Esteros para pescar grandes dourados na mosca, e quando se fala em Esteros Del Ibera, subentende-se o Rincon Del Diablo (www.rincondeldiablo.com.ar), uma estância do proprietário Sr. Luis Cemborain, localizada em na zona de Mercedes, próxima ao final dos esteros onde se forma o rio Corrientes, afluente do Paraná.
 
       Local de beleza indescritível e totalmente selvagem, considerado pela National Geografic um dos últimos três refúgios de natureza completamente preservada do planeta.

 

       Os Esteros possuem a área de 13000 Km quadradros (a extensão de paises como Israel), composta de canais, esteros e lagoas, formando um imenso manancial de águas cristalinas das quais somente 15% foram visitadas pelo homem...
 
       Neste grande ecossistema, vivem e se reproduzem (população residente e população migratória) quantidades absurdas de dourados e outras espécies.
 
       Na primeira vez que estive por lá, escrevi matéria que hoje pode ser acessada no Fishpoint, na época foi publicada no Flyonline, do amigo Otávio Araújo.

 
 

       Em relação a três anos atrás, muita coisa mudou no rincon del diablo, foi construída uma nova e sofisticada pousada, com comida excelente, bons vinhos e excelentes acomodações.
 
       Os barcos foram substituídos por novos, com plataformas especiais para pesca com fly (quem não se aborrece quando não há uma boa plataforma que evita enroscos da linha em ranhuras do barco...), os motores foram substituídos por Honda quatro tempos, silenciosos, econômicos e muito menos poluidores. Os guias são excelentes. O preço é um pouco salgado, para nós brasileiros, isso que ainda pagamos uma tarifa diferenciada em relação a pescadores americanos, europeus e japoneses. A tarifa atual é de 200 dólares por dia, com tudo incluído, inclusive bebidas, combustível, etc...
 
       Vale a pena, sem dúvida.
 
       O que não mudou foram os dourados... graças a Deus e ao extremo cuidado conservacionista de Dom Luis e seus guias.

 
A Pesca
 

       Depois de três anos e 6 pescarias (com vários dias no lugar), começa-se a entender um pouco como pescar os dourados dos esteros.
 
       Tradicionalmente, nos preocupamos muito com questões do tipo;
 
       Que mosca usar?
 
       Linhas floating, sinking tip ou sinking?
 
       Que tipo de aço na ponta do tippet?
 
       Qual o tipo de trabalho na mosca?
 
       Sinceramente, são questões que, após algum aprendizado, considero menores no sucesso da pesca naquelas condições. Ao contrário da pesca de trutas, onde estes fatores como mosca, técnica, leitura do rio, presença ou não de hatches são decisivos, na pesca do dourado são mais importantes a hora do dia, a temperatura da água, o ciclo reprodutivo do peixe e a disputa por alimentação.

 
Peixes deste porte são muito abundantes. Notem a vara 6 ao lado,o que proporcionou excelente briga. NÃO pesquem com este equipamento no início ou final do dia...  

       Nas primeiras horas de luminosidade e com a água mais quente, em certos lugares, tanto fazia a mosca que eu usasse, os dourados estavam comendo e atacavam tudo!!!! Eu nem tinha tempo de trabalhar qualquer mosca, os dourados, algumas vezes atacavam a mosca no momento em que esta batia na água, não importando cor, forma, material, nada... Eles simplesmente estavam comendo e destroçando tudo que caia ou se movia na água. Como não fazia diferença, preferia usar as moscas Greg´s original, do Gregório, que são leves e muito fáceis de arremessar.

 

       O arremesso sim faz diferença, distância é importante e é melhor fazer um bom arremesso longo do que três arremessos de média distância, porque a água dos esteros é muito cristalina e os bichos te enxergam logo.

 

       Após o frenesi do início da manhã, a pesca se torna mais seletiva e aí a profundidade coberta pela mosca, seu trabalho e o local a ser escolhido para o cast são importantes. Com a incidência solar mais perpendicular, o dourado procura lugares mais protegidos, mais próximo à camalotes e vegetação sub aquática, além de estar comendo em profundidades maiores. Nestas horas, linhas sinking tip com moscas tipo zonker, de cores mais escuras, tem melhor rendimento. Se o peixe continuar difícil, tente moscas com cabeça tipo mudler, que deslocam mais água, provocando mais o dourado que está mais arisco.

  Outra bela criatura, já com uma GLX para linha nove, intermediate.
 
 

       Mosca 1: (esquerda para direita): atada pelo Sergio Marchioni (a que sobrou...) cor preta, com bom deslocamento de água, sucesso absoluto com sinking tip.
 
       Mosca 2: O que sobrou de várias Greg’s original.... Um sucesso!
 
       Mosca 3 e 4: 2 novas moscas do Gregório, muito eficientes quando os dourados estavam bem ativos.
 
       Mosca 5: Uma cabeça de Muddler atada pelo Scotti, bem eficiente, mas prejudicada pelo anzol não ser tão bom como os hayabusa.

 

       O final de tarde é outro show. Conselho: Não canse o braço durante as horas menos produtivas da tarde, guarde energia para o final, onde os dourados novamente se movimentarão mais e vão comer freneticamente.
 
       A ferrada é um capítulo a parte na pesca do dourado. Ferre o peixe com a mão, segurando a linha firmemente, e depois, brigue com o peixe erguendo a vara. Anzóis hayabusa dificilmente deixam o monstro escapar.
 
       Considero a melhor época a partir do final de setembro, quando há uma migração importante pelo rio Corrientes em direção aos esteros, somando dourados migratórios e residentes.
 
       Janeiro e Fevereiro castigam muito os pescadores pelo calor, muito acentuado, as vezes quase insuportável, embora há grande atividade de dourados.

  Belos dourados, muita valentia. Notem, no abdômen, o ataque sofrido por algum monstrinho ainda maior...
 

       Recomendo altamente uma ida aos esteros, à estância Rincon Del Diablo para um encontro com este peixe fantástico chamado dourado.
 
       Como disse e assinou o grande Mel Krieger (vi a carta emoldurada por Dom Luis), nenhum pescador do mundo pode dizer que lutou com um peixe sem ter conhecido a sensação de brigar com um dourado na mosca...

 

Mais Fotos:

 
Típico canal dos esteros, com água corrente.   Águas cristalinas, sem dúvida...