Texto: Ricardo “Tita” Kroef
E-mail do autor: kroef@terra.com.br
Fotos:
Ricardo Kroef, Bebety Albrecht e Alexandro Klap
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Quem de nós, pescadores, nunca se deparou com o problema de como anunciar à cara esposa (e filhos) que vamos mais uma vez sair para aquela sonhada pescaria, abusar do orçamento e nos ausentarmos do convívio familiar, postergando aquela viagem prometida à todos???
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Como tínhamos 10 dias para viajar, decidi por 7 dias na patagônia e 3 em Buenos Aires. Na patagônia, escolhi a região do Parque Nacional do Lanin, pela infraestrutura, beleza dos rios, serviços de guia, etc... A base escolhida foi San Martim de Los Andes, cidadezinha linda, turística e com excelente estrutura de pousadas e restaurantes. Assim, poderíamos pescar durante o dia e disfrutar da cidade à noite. |
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Quando se pensa em pescar nos rios patagônicos (ou em qualquer lugar), com mulher e crianças, a segurança é a primeira preocupação. Sempre contrate guias experientes, com profundo conhecimento dos rios e dos seus perigos. Pescar com mosca envolvendo wading (caminhar dentro do rio) e flotadas (descidas de rios em balsas pneumáticas) envolvem riscos, e a segurança é fundamental.
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Ao chegarmos a San Martim, nos dirigimos à pousada onde Alexandro fez uma preleção a todos, sobre as normas e procedimentos básicos de como se comportar nos rios e nas flotadas. Fazendo-o de forma solene, como combinamos anteriormente, os guris levaram a coisa bastante a sério e nunca descuidaram da segurança na água.
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No segundo dia partimos, bem cedo, para uma flotada no espetacular Chimehuim. A vantagem de se flotar este rio é que, por ser hoje praticamente todo privado (os acessos), a única maneira de pescar as partes mais produtivas é entrando nos tramos privados pela água, flotando (ou teremos que pagar 600 dólares por dia para se instalar nas pousadas dos proprietários de terra)...
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Confesso que no início da flotada eu não conseguia tirar os olhos da balsa dos guris, principalmente quando se passa por algumas corredeiras do Chimehuin. Logo vi que o Jorge manejava os remos com destreza, comandando o posicionamento correto dos guris na balsa e me tranqüilizei, iniciando minha pesca sem preocupação.
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O melhor da flotada é o seu dinamismo, assim, no momento que Bebety e Felipe cansavam de pescar, iam desfrutando a paisagem e os animais. Vimos um enorme cervo colorado atravessando o rio, além de inúmeras famílias de patos e marrecos patagônicos de diferentes espécies com crias. A presenças destas criaturas diverte a qualquer pessoa, tornando a flotada um programa sempre interessantíssimo até para os que não pescam ou se cansam de arremessar no trajeto de descida do rio.
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Ao final do dia, a flotada tinha sido um sucesso, com os novos mosqueiros já apaixonados pela patagônia, suas trutas, seus bichos e sua beleza ímpar.
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No Malleo a pesca estava muito técnica, era preciso ler bem o rio e o comportamento das trutas (um desafio que me encanta) e aí a pesca fica mais difícil para os principiantes, então, optei por pedir ao Alexandro que partíssemos logo. Decisão acertada, pois a pesca no Quillen, com menos calor, foi muito mais fácil e produtiva para os guris e a Bebety. |
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Há que se tomar alguns cuidados no Quillén, no que se refere ao wading dentro do rio; o Quillen é composto de pedras grandes, arredondadas e lisas e normalmente não é um rio fácil de wadear. Somado ao fato de que nos meses de novembro e dezembro a correnteza é maior devido ao degelo, deve-se tomar muito cuidado dentro do rio, sendo que o ideal é a presença de um guia para cada criança. Não foram poucas vezes que os guris flutuavam dentro d’água, e teriam caído se não fosse a presença do guia. |
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Como Bebety não pescou um dia, preferindo fazer uma cavalgada na grande fazenda em Rahue, ficamos com um guia para cada guri e eu pesquei sozinho. Sempre é bom ter um programa alternativo para as mulheres, e como não há “shoppings” na região, uma cavalgada ou rafting pode ser a garantia do dia se a companheira não quiser pescar. |
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A pesca no Quillen sempre é fantástica, por seu incomparável número de trutas e pela possibilidade de pescar de todas maneiras, destacando o fato de ser o filé da patagônia em termos de pesca com moscas secas. Pescamos todo dia muito bem, e, no final de tudo, fui até ao encontro do Quillén com o grande Alumine, carregando a velha RPLX 6 com linha sinking para uns tiros tentando uma grande marron... |
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Logo no segundo arremesso, na corredeira em que termina o grande pool da pousada, bem na boca do Quillen, senti o tranco e as cabeçadas de uma truta que me parecia bem grande. Não brigou tudo que eu esperava e logo mostrou o dorso! Uma marron muito grande, ao redor de 3,5 kg, linda veio para os pés. Confesso que tremi, era, sem dúvida, a maior que pesquei na patagônia nestes anos todos.
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No dia seguinte voltamos ao local, desta vez com o Jorge e casteamos várias vezes, sem resposta da trutona. Sem dúvida pode estar lá, seu colorido quase amarelo ouro na barriga mostra que é uma residente, além de ainda não ser época das grandes marrons saírem de Alicura e subirem os rios para desovar... |
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No dia seguinte mais uma vez pescamos o Quillén, saí com a Talon 2 que comprei há tanto tempo do Gregório e fui mais para ver os guris e Bebety pescar. No meio da manhã vi uma boa arco-íris comendo abaixo de um salso, reparei que tomava emergers, pelo posicionamento da barbatana dorsal quando subia, fazendo aquela onda característica de truta comendo emergers. Havia muitas caddis no ar e troquei a Timberline por uma pupa de Caddis. O cast foi bom, upstream, um mend para corrigir e a truta tomou a pupa. |
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Um segundo para a fisgada leve (vara 2, tippet 5X) e uma impressionante série de saltos e corridas. A arco-íris me surpreendia pelo tamanho e eu me maldizia por estar com a varinha 2, teria que cansá-la bem, ou até demais , para por as mãos nela... Quase 10 minutos depois ela cansou, consegui a bela foto que ilustra esta matéria, e senti um condenável prazer de vingança da marron perdida um dia antes... |
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Voltando para a pousada, os 3 novos pescadores vinham em silêncio, e eu me via como na primeira vez que deixei o Quillén, há quase 10 anos atrás... Aquele sentimento de deixar o paraíso, aquela tristeza de ter que partir, porém com a indisfarçável gratidão àqueles rios mágicos, suas trutas e ruídos, à estepe e seus bichos, à gente simples patagônica, ao silêncio daquela imensidão, que nos faz refletir sobre o que é valioso nesta vida...
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Sensação absoluta de felicidade e vitória; tenho certeza que terei parceria para o resto da vida, sei que algum deles, ou os 3 , algum dia se preocuparão com o velhinho Tita, que poderá cair no rio Quillén ou da balsa na flotada... O tempo é algo de que não se escapa, rezo para ter eles como bengala num rio da sagrada Patagônia... |
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