Lembranças!

Texto e Fotos:
A.C.Cravo


Sessentão

 
Gravando o Programa Pesca e Lazer  

       Outro dia, terminada a festa de aniversário estava pensando na vida. Nos sessenta anos bem vividos onde cinqüenta e dois deles até agora foram dedicados à pesca. Quantas não foram as ocasiões onde tive que "negociar" com Comandantes de Bateria a possibilidade de uma dispensa a ser descontada nas férias para não perder "aquela" viagem para a qual não haveria reprise.

 
No Araguaia   Manaus 1991
 
Acampamento no rio Guaporé, Rondônia   Pousada Salto Thaimaçu, 2700 km de carro
 

       Me vi menino acompanhando meu pai em suas saídas domingueiras aos Cangulos, Carapicus, Cocorocas e eventualmente às Guaiviras, que chamávamos Solteiras ou Salteiras. Com o Carlão e o Luiz "Mão de Seda", viajando e acampando por esse Brasil afora.

  Carlão, Luiz 'mão de seda'e outros
 

Mas muito fortemente, até mesmo por ser mais recente, lembrei-me de quando incipiente intentava minha primeira investida na técnica da pesca com fly colando ração para gatos no anzol, acompanhado pelo Jadir, fiel companheiro de inúmeras pescarias e noitadas insones quando pelo telefone íamos comentando nossas pesquisas na procura de um material que mais se assemelhasse às rações para peixes utilizadas nos pesqueiros e da alegria na descoberta da cortiça que deu origem aos Cork ball. Lembrei-me também dos cursos que fizemos juntos na Fly Fishing Adventure, com o Tati ensinando técnicas de pesca e de atado que incentivaram mais ainda nosso desejo de quase só pescar com fly e do que na ocasião (maio 97) escrevi sobre isso com o título "Da Bocaina para a UTI".

 
Primeiro peixe no fly   Curso de Atado
 
Lago e cachoeira na Bocaina  

       "Fazem 15 dias que voltamos da Serra da Bocaina, onde fomos conhecer o Projeto Aqua, considerado a maior truticultura da América o Sul.

       O convite caiu como um presente para dois fominhas que só pensavam em pescar de fly e que lá encontrariam as maiores Trutas passíveis de serem encontradas no Brasil, tudo isto acompanhado do conforto proporcionado pelo hotel e seu restaurante, onde o prato principal era sempre a Truta, servida das mais variadas maneiras, muitas delas conhecidas mundialmente. Certamente iríamos poder "carimbar" os nossos diplomas.

       Abrindo um parágrafo, devo ser meio louco por pescaria.

 

       O Título "Da Bocaina para a UTI/UCO", não é brincadeira. Agora mesmo estou conectado a fios ligados a um aparelho controlador e entubado à duas mangueiras que me enchem de soro e remédios. Tudo começou quando fiz um exame ergométrico. Dois dias depois fazia um cateterísmo, não sem antes ter ido pescar com o Jadir no "Paculândia" e acrescentado mais alguns deles ao meu acervo.

  Entubado e monitorado, se morrer tá pronta!
 
Desentupido  

     O cateterísmo até o seu final nem chegou a preocupar, de tão tranqüilo. O negócio só ficou feio quando o médico disse que eu era um "cara de sorte", pois a interrupção nas veias era tão grande que há muito tempo eu já deveria estar pescando no céu. Pelo menos até que o diabo percebesse a minha morte.

 

     Feita esta interrupção explicativa, sobre o porquê UTI/UCO, vamos falar da pescaria.

     Logo após à chegada fomos conhecer local e logo optamos pela parte inicial do lago maior onde chega a água da cachoeira. E ali, embora grande parte da água tenha sido desviada para a truticultura, acredito que a oxigenação era maior atraindo por isso os grandes exemplares. É sabido também que as margens ou onde os lagos se apresentam mais rasos, a possibilidade de maior penetração da luz solar, favorece o desenvolvimento de algas e outros tipos de vegetação, que na verdade são o primeiro estágio da cadeia alimentar que passará pelas trutas e acabará em nós, seus pescadores e último estágio dessa cadeia de alimentação. O local ainda apresentava várias formações rochosas que serviam de abrigo às Trutas. Ali vimos bons exemplares (todos na faixa de 2Kg), que nadavam lentamente sem se preocuparem com as iscas, que muitas vezes passavam sobre seus corpos. Técnicos locais falaram que isso se devia à proximidade da desova que começa a ocorrer em meados de maio. Ainda assim pegamos alguns exemplares para o jantar, porém sempre casteando em locais escondidos e ao lado ou sob pedras.

 

       Contrariando a opinião de antigo e famoso flaiseiro as moscas secas não deram bom resultado. Os melhores ataques foram às Ninfas, com as lastreadas fazendo verdadeiro sucesso. Entre as seis Trutas levadas para o jantar uma de 1,7Kg Foi o maior exemplar da tarde, onde perdi para o Jadir na quantidade e ganhei no peso. Pode parecer estranho mais a prática que ele tinha com as Tilápias ajudava muito suas ferradas no fly. No Sábado e no domingo as Montanas "arrasaram", embora as Wolly Bugger e Wolly Worm que fabricamos durante nosso curso de atado e depois em casa, também tenham pegados os seus peixes, podendo ir para o chapéu como ensinou o Tati.

  As primeiras trutas
 
3,100 kg de emoção  

     Parodiando personagem do filme "Nada é para sempre", Deus foi muito bom para conosco pela boa pescaria que no proporcionou e particularmente comigo que pesquei vários exemplares acima de 1,5Kg, alguns acima de 2Kg, o maior com 2,7Kg (no sábado) e um com 3,1Kg( no Domingo), que foi o maior de todos. Essa proteção continuou pois eu nem poderia pensar naquela ocasião, que logo depois estaria numa UTI aguardando a colocação de quatro pontes no coração, narrando a aventura sob o olhar triste da Piedade, que fotografava e chorava enquanto me chamava de louco. Terminei o texto com um até breve, se tudo desse certo.

 

     E deu!

     Dois dias depois lá estava eu de volta à UTI, ainda entubado acordando do que parecia ser a mais longa das noites. Se posso fazer uma analogia, acho que a morte é uma anestesia geral sem volta. Quando tudo funciona bem você parece ressurgir de um buraco negro tomando consciência aos poucos de que está vivo e que Deus existe.

 

       Escuta vozes, chamam o teu nome e você vem ressurgindo como naquela antiga série de TV, "O túnel do tempo". No meu caso, mesmo ainda sem estar completamente desperto, veio-me à lembrança minha imagem sentado na cama da UTI, escrevendo aquela que poderia ter sido a última matéria. A ela seguiram a dos filhos, do quartel, dos saltos de pára-quedas, dos amigos e das pescarias às quais eu certamente estava de volta.

  Novo de Novo
 

     Hoje, passados cinco anos e inúmeras delas, ao me ver rodeado de amigos, filhos e netos, mais uma vez corroboro a opinião do Pastor:

     Deus foi particularmente bom para comigo!

 

 
Mais Fotos:

 
Noburo, Young, Pedro e Priscila   Coronéis Barreiros, Aldo e Kratzer
 
Alvaro, Gladis e Ester   Marchioni e suas meninas Victoria e Maithe
 
Pescaria no Marco Polo, Nov 2002   Pescaria no Amazon Prince, Dez 2002
 
No quartinho de pesca   Obrigado Senhor!