Pescando no Rio Roosevelt

Texto:
Marco Valério da Costa
Fotos:
Ian Sulocki e Marco Valério
Imagens de arquivo em PB:
Cedidas gentilmente por Theodore Roosevelt Collection, Harvard College Library


Um pouco de História e localização

 

       Descoberto em 1909 pela Comissão Rondon, recebeu, inicialmente, o nome de Rio da Dúvida (a origem do nome devia-se ao fato do desconhecimento para onde iria desaguar). Em 1913 inicia-se uma expedição científica. O Presidente Americano Theodore Roosevelt, também participou dessa expedição que durou até maio de 1914, quando Rondon, em sua homenagem, nomeou o rio de 1.409 km, com o nome de Rio Roosevelt. Entre outras atividades, a expedição tinha por objetivo a coleta de animais e plantas para o museu de história natural americano.

 
 
 
 

       O rio nasce na chapada dos Parecis em Vilhena, no paralelo 13º19’, seu curso tem o sentido sudeste/norte alcançando o Rio Madeira no paralelo 5º LS, rio do qual é afluente pela margem direita. O Rio Roosevelt é conhecido ainda hoje como Rio da Dúvida em seu alto curso, Rio Castanho em seu médio curso e Aripuanã em seu baixo curso. Seu curso percorre trechos dos Estados de Rondônia, Mato Grosso e Amazonas, recebendo águas de vários tributários destacando-se entre eles na margem esquerda os Rios Capitão Cardoso e Tenente Lira, oriundos de Vilhena (Parecis) e na margem direita os Rios Madeirinha e Branco.
 
       Dessa expedição cientifica surgiu o livro Nas Selvas do Brasil escrito pelo presidente norte-americano, onde diversos relatos da região são mencionados.

 

       Numa dessas passagens o autor refere-se a uma cachoeira nomeada até então de cachoeira Santa Rita que passou a ter o nome de Cachoeira do Inferno. Impossível de ser atravessada. No dia 21 de abril de 1914, o ex-presidente americano percorreu as trilhas onde atualmente se localiza a Pousada do Rio Roosevelt e que após 89 anos, a região continua exatamente igual a aquela época.

 
 
 

       Menciono isto porque nosso destino era justamente esse trecho do rio.

 

       Através do convite da High Hooks Fishing Tours e da própria Pousada tive a oportunidade de realizar mais um curso de fly destinado exclusivamente aos guias de pesca daquele lodge.
 
       Além disso, iria acompanhar dois americanos – Mark e Philippe – membros da IGFA – durante as pescarias, juntamente com o amigo Ian Sulocki, da Universidade da Pesca.

 
 
 

       A Pousada do Rio Roosevelt está localizada no Estado do Amazonas próxima à divisa com Estado de Mato Grosso e Rondônia, ao pé da cachoeira do Inferno.

  www.pousadarioroosevelt.com.br
 

       Para chegar até a pousada, o melhor roteiro é um vôo regular até Porto Velho e um vôo fretado até a pousada. Não há estradas até o lodge, sendo o acesso feito por avião ou ainda por navegação, viagem essa quase interminável, pois o acesso ao rio é feito através de uma ponte na Rodovia Transamazônica, distante 18 horas do local. O vôo de Porto Velho até a pousada dura em média uma hora e trinta minutos.

 
 

       A Pista da pousada possui 980 metros de extensão por 60 metros de largura. Sendo toda bem compactada em cascalho, com capacidade para receber aeronaves como: Grand-Caravan, King-Air, Sêneca, entre outros. Operando com segurança os 12 meses do ano, segundo nos informou o Junior, um dos proprietários da Pousada.
 
       Durante uma semana dividi meu tempo entre o curso e as pescarias, já que alguns guias estariam ocupados com os americanos e não poderiam participar junto com os demais.

 

Um pouco da pescaria na região

 

       Em razão da cachoeira, a pescaria é feita acima ou abaixo dela. Na parte de baixo da cachoeira existem diversos locais onde se pesca o tucunaré, em pequenas baías e locais mais abrigados onde a água é mais lenta. No próprio leito do rio é possível capturar alguns exemplares próximos a estruturas como galhadas, troncos submersos ou pedras, que aparecem aos montes.

 
 
 

       Na parte baixa do rio, ainda, distante cerca de uma hora de navegação fica uma segunda cachoeira, chamada de Inferninho. Aqui é preciso descer dos barcos, para poder continuar a navegação, após os barcos serem posicionados abaixo das fortes corredeiras.

 
 
 

       Logo em seguida a saída da Cachoeira do Inferninho fica uma área excelente para a pesca de matrinxãs. Os cardumes são facilmente visualizados, mas a pesca exige muita precisão dos arremessos. Em muitos pontos dessa descida o pescador terá uma única chance de fazer apenas um arremesso em determinado ponto escolhido. Pacús Bandeira e Brancos são comuns também nesse local, podendo ser capturados com a imitação de uma fruta avermelhada (uma espécie de araçá).

 
 

       Nossa pescaria foi dividida na parte baixa do rio em dois dias. No primeiro dia pescamos até a cachoeira do inferninho. No segundo dia nossa meta era descer a cachoeira até um acampamento avançado da pousada, distante duas horas dessa cachoeira, onde faríamos nosso almoço para retornar ao lodge no período da tarde.

 
 
 
 

       O Rio Roosevelt nesse trecho alterna longas áreas de águas calmas e profundas para em seguida apresentar trechos de águas rápidas e rasas. A pesca do tucunaré, bicuda e cachorra é freqüente por toda a extensão do Rio.
 
       Na parte superior da Cachoeira do Inferno, a pesca pode ser feita em dois rios distintos. No próprio Roosevelt ou no Madeirinha, tributário do primeiro.

 

       Na parte superior, pescamos dois dias no Roosevelt e dois dias no Madeirinha, que apresentava condições um pouco melhores para a pesca do tucunaré.

 
 
 

       São rios completamente distintos. O Roosevelt apresenta uma água mais escura (quase cor de coca-cola), muito limpa e com grandes áreas de pedrais. Algumas praias de areia branca dão um contraste para o rio e são excelentes pontos para a pesca do tucunaré e bicudas também.

 

       Em grande parte o rio apresenta um fundo de pedras, muito raso e que dificulta a navegação nas primeiras e últimas horas do dia, entretanto os guias da Pousada atravessam por esses trechos na maior tranqüilidade e com uma visão quase zero, o qual um pescador pouco acostumado com a navegação na região não se atreveria a passar.

 
 
 

       É um rio com poucas baías ou lagos, alguns muito distantes da pousada, o que exigem, muitas vezes algumas horas de navegação e uma saída bem cedo.
 
       Normalmente a pesca acaba ocorrendo no próprio rio, em pontos pré-determinados como saídas de riachos, pedrais de meio, próximo a paredões de pedras nas encostas ou espraiados, onde a pesca passa a ser desembarcada.

 

       Alguns remansos formados pelas pedras são pontos excelentes para se lançar uma mosca, também.
 
       Já no Madeirinha, a pescaria é um pouco diferente.

 
 

       Por ser um rio de fundo de areia, e bem mais raso, o tucunaré não está tão espalhado. Quando se encontra o peixe, pode-se ter a certeza que haverá muitos outros. Este rio apresenta alguns lagos bem próximos da Pousada, que torna a pescaria do tucunaré mais fácil, principalmente para aqueles que não estão habituados com a pescaria desse peixe, como era o caso dos americanos.

 
 
 
 

       A pousada está montando dois acampamentos (bases avançadas) nos dois rios (distantes do lodge cerca de 3 horas de navegação, cada base), onde o pescador poderá pernoitar e continuar a pescaria no dia seguinte, rio acima.

 
 
 

       Acredito que o pescador que quiser conhecer a região terá boas opções de pesca, com uma boa variedade de espécies para serem capturadas, tanto com fly, com iscas artificiais (bait casting) ou ainda tentar os peixes de couro e corvinas à noite.

 

Sobre os peixes

 

       Existem duas espécies de tucunaré presentes na região, o borboleta (que o pessoal de lá chama de Açú, mas que não se trata do tucunaré Açú encontrado no Rio Negro) e o tucunaré pitanga, um pouco menor mas com uma coloração muito bonita.

 
 
 
 
 

       Cachorras e Bicudas estão por todos os lados. No pé da Cachoeira do Inferno são encontradas as maiores cachorras e algumas bicudas grandes também. A Pescaria nesse local é feita geralmente ao final do dia, na última hora.

 
 
 

       Para aqueles pescadores que também querem tentar um peixe de couro à noite, diversos locais com grandes profundidades são excelentes pontos para pirararas, filhotes, jaús, jundiás e cacharas. Sem contar na pesca da corvina.
 
       Além dessas espécies, a matrinxã, o pacú bandeira e branco são boas opções, principalmente para testar a habilidade de qualquer pescador com fly. A Caranha é outra espécie que se faz presente. Pude observar algumas matrinxãs na faixa de 3 quilos que simplesmente ignoraram qualquer isca apresentada pra elas. Somente as pequenas, com peso aproximado a 0,5 kilos arriscavam um ataque às moscas.

 
 
 

       Existe ainda possibilidade de se pescar a Jatuarana, peixe raro de se encontrar, que na região do Madeirinha, cerca de 5 horas de navegação da pousada, chegam a pesar 5 a 6 quilos. Mas dessa pescaria só tive a notícia e a promessa que na próxima vez que for pra lá tentaremos encontrar o peixe.

 
 
 

       Como se percebe, a região oferece uma rica variedade de peixes para a prática da pesca esportiva. Não mencionei os peixes pequenos como jacundás e sardinhas, ou ainda enormes lambaris que podem ser pescados com uma tralha bem leve.

 

Algumas informações sobre a Pousada e serviços

 

       Quem chega à Pousada do Rio Roosevelt vai se surpreender com o local.

 
 
 

       Os chalés da pousada (6 chalés) possuem todo o conforto necessário, integrando o turista/pescador ao ambiente da floresta amazônica, estando equipados com ar-condicionado, frigobar, wc com banho quente.

 

       Além disso, está disponibilizado serviço de lavanderia e duas máquinas de gelo com capacidade de 400 kg/dia.
 
       A pousada possui um restaurante climatizado com vista panorâmica para a praia natural onde é possível tomar um refrescante e seguro banho nas águas do Rio Roosevelt.
 
       As diárias incluem café da manhã, almoço, happy hour e jantar com cerveja, refrigerante, sucos naturais e água mineral incluso.

 
 
 

       A comunicação é feita via rádio, através do escritório da Pousada, em Porto Velho.
 
       Para a pesca, a Pousada dispõe de barcos de 6 m, equipados com motor de 25 HP e cadeiras giratórias. Os barcos não estão equipados com motor elétrico, mas, segundo o Junior, em breve a pousada terá mais este equipamento.

 

       Além disso, a pousada tem uma base avançada localizada no Rio Roosevelt abaixo da Cachoeira do Inferninho (distante 3 horas - navegação), que serve como apoio ou para um opcional pernoite dos pescadores. Estão sendo construídas mais duas bases avançadas, uma no Rio Madeirinha e outra no Roosevelt, acima da Cachoeira do Inferno.

 
 

       Além de tudo isso, a pousada possui uma torre com observatório de pássaros, com visão geral da região e trilhas ecológicas no meio da floresta amazônica.
 
       A natureza colabora ainda mais com a beleza do lugar. Milhares de borboletas podem ser observadas por todos os locais que se caminha ou se navega. Se o rio tivesse o nome de “Rio das Borboletas”, seria, também, bastante adequado.

 
 
 
 

       Alguns animais silvestres, como uma capivara e um mutum, compõem o cenário “dando boas vindas” aos hospedes e sempre estão próximos ao restaurante ou chalés.

 
 
 
 

Sobre o curso ao Guias

 

       A Fly Cast, com seu propósito de difundir a Pesca com Mosca no Brasil, realizou mais um curso de fly exclusivo para os guias de pesca da Pousada.
 
       Com o objetivo de orientar os profissionais do turismo da pesca para um melhor atendimento ao pescador com mosca, foram passados diversos conceitos e abordados diversos temas relacionados ao assunto.

 
 

       Os guias da Pousada Rio Roosevelt receberam treinamento prático, com exercícios de arremessos, e grande conteúdo teórico adaptado às condições e realidade da região. Estando preparados para receber o pescador com mosca e atendê-los com bastante segurança.
 
       Com isso a Pousada do Rio Roosevelt passa a contar com um serviço diferenciado visando atingir um público mais exigente e também diferenciado.

 

       A iniciativa de capacitação do guias para a prática da pesca com mosca é inédita no Brasil, em setembro passado realizamos o primeiro curso exclusivo aos Guias no Xingú River Lodge, no Pará, capacitando os guias de lá e, com o resultado positivo, a Pousada do Rio Roosevelt resolveu investir na proposta e passa a contar, também, com a certificação da escola.

 
 

       Este curso foi realizado em 3 dias (durante o período noturno eram realizadas as palestras e discussões teóricas e durante as manhãs, o treinamento prático).

 
 
 
 

       Temas como, leitura de água, segurança na pesca, distância, abordagem, posicionamento de embarcação e aproximação dos pontos de pesca foram amplamente discutidos. A escolha e trabalho das moscas, montagem de equipamento e construção de líderes também foram assuntos explorados nas palestras. Na parte prática, um treinamento com alguns arremessos (muito embora os guias estejam orientados a não pescar com os clientes) consolidam a compreensão da teoria. Uma saída de barco, mostrando os locais mais propícios, a distância ideal para um arremesso, o trabalho das moscas e suas funções práticas, entre outras coisas, fazem com que os guias tenham totais condições de atender o pescador com fly.

 
 
 

       Além desses assuntos específicos, outros temas foram abordados, já que o Ian Sulocki também é consultor do PNDPA e pode passar algumas informações gerais sobre a pesca esportiva.


 

Tralha:

  - Para essa pescaria utilizei Vara Sage Xi2 - #8 – Linhas TTBT- 8-I (Royal Wulff) e WFBT-8-F (Rio). Carretilha – G. Loomis Venture 7.

Moscas:

  - Streamers variados (cachorras, tucunarés e bicudas), poppers, divers e sliders (tucunaré). Gafanhotos e wolly buggers (matrinxãs), coquinho para os pacús.


  Para informações sobre pacotes de viagem e pescaria na Pousada do Rio Roosevelt consulte:
Universidade da Pesca - www.upesca.com.br
High Hook Fishing Tours – www.fishinginamazon.com
 
A partir de 2005 a Fly Cast – www.flycast.com.br - (em parceria com as duas empresas acima) também estará organizando grupos para o Rio Roosevelt – aguarde!
 
Agradecimentos: Não posso deixar de agradecer ao amigo Ian Sulocki da Upesca e High Hook, ao Flávio, também da High Hook. Ao Junior e “Seu” André da Pousada do Rio Roosevelt e a todos os guias de lá. Muito obrigado.