Em Busca do Grande Tarpon
 

Texto e Fotos: Alejandro Infante
Tradução: Ricardo “Tita” Kroef
Original em espanhol


 

       Depois de ler vários interessantes artigos sobre a pesca com mosca no Caribe, da maravilha da pesca dos bonefish em águas quentes e transparentes,dos extraordinários pampos gigantes (permits) e das lutas incansáveis dos tarpons, me animei a levar meu equipamento de fly na bagagem durante uma viagem de trabalho a Caracas, na Venezuela. A idéia era deslocar-se por uns dias a Los Roques, um parque nacional, que, na opinião de alguns especialistas, é um paraíso de mergulho, da vela, e da pesca esportiva.
 
       Los roques forma um arquipélago com forma de atol, com barreiras de corais y um total de 33 ilhas, cuja posse se deu em 1589.
 
       Sua ilha principal, Gran Roque, é cruzada por uma ruazinha comprida de areia, por onde circula apenas o caminhão municipal de água. Sua população não supera as 2500 pessoas, gente amável e informal. Ali, diferente de Cancun , Cozumel e outros lugares do Caribe, não existem resorts ou grandes hotéis, apenas pousadas atendidas pelos próprios donos.
 
       Para chegar, se deve pegar um vôo no aeroporto de Caracas. Há várias linhas aéreas, umas melhores que outras e com valores em torno de U$ 140. Depois de 40 minutos de vôo se chega ao Parque Nacional de Los Roques, do qual se têm uma visão especial.
 
       Ao chegar, paga-se um imposto de U$ 30 e, depois de uma caminhada curta, cheguei na pousada La Cigala (escolhi por internet), onde fui recebido por Enrique,o dono, um senhor muito amável y com boas piadas. O lugar é simples porém digno, assim como a comida.
 
       Um bom bar e living central são os lugares de reunião dos hóspedes, todos com sentimento de passar bem e, como não, com os petiscos cubanos ou caipirinhas muito bem preparados pelo Enrique.
 
       Depois de um par de aperitivos a comida está servida e é compartida entre americanos, franceses, ingleses e este “chileninho” entre eles. Uns são pescadores de fly outros aficcionados do mergulho e vela, cada um com suas histórias que são divididas entre uns copos de vinho.
 
       Um pouco depois, na hora do cafezinho, aparece Guareque, o guia local que contatei graças à ajuda do meu amigo Gerardo Ortiz, da loja Rod & Gun. Guareque é um venezuelano típico, alegre e grande conhecedor desta zona. Depois das saudações, revisamos as moscas e programamos a saída para as 7:00 h. Nada mais a fazer do que descansar e sonhar com um bonefish ou um Tarpon grande que, segundo Guareque, são possibilidades reais em Los Roques.

 
 

       O dia amanheceu com céu limpo,quente e sem vento e com o mar agitado pela maré alta.Tudo indicava que seria um dia difícil. Retiramos as licenças de pesca e...Mãos à obra!
 
       Depois de navegar por uns 15 minutos chegamos aos primeiros flats, águas baixas tipo lagoas, com vegetação no fundo e nas margens, lugar predileto dos bonefish. Aqui a pesca é tipo “caçada”, que dizer, se caminha (indispensável umas boas botas de vadeo), visualizam-se os bonefish e se arremessa a mosca. A técnica requer um arremesso delicado e preciso, preferencialmente com uma vara 6 e linha flutuante para água salgada, mas o mais importante é o olho treinado do guia, que indica usando a orientação do relógio a localização e distância do peixe.

 

       Com a ajuda do guia, as capturas se sucederam em torno de 10 bonefish entre 1 e 2 quilos, muito lutadores. Estes peixes são considerados entre os mais importantes no quesito força x tamanho.
 
       Encerramos a jornada de pesca às13 horas; merecíamos uma cerveja gelada e algumas frutas para repor as forças, descansar e voltar ao “trabalho”.

 
 

       Guareque ordena ao capitão o novo destino de pesca e manda–me armar a vara e carretilha mais potente que eu disponho, no caso uma 9. Atraca o bote a 100 m da costa atamos uma mosca Gummy (uma mosca de borracha que imita um alevino) em um líder de 9 pés para 40 libras.Pensei que tudo isto era encenação, menos mal que eu vinha atrás dos bonefish. Na verdade, uns minutos depois vi as primeiras marolas de uns Tarpons impressionantes, os menores com cerca de 20 kg e dali para cima! Não era gozação, os tarpons estavam ali em quantidades e tamanhos impressionantes...eu simplesmente não podia acreditar.
 
       Depois de calibrar a mão, os arremessos começaram a melhorar, depois de uns 20 minutos senti um primeiro toque muito sutil ao qual não esbocei nenhuma reação. Imediatamente levei um esporro de Guareque: “Putz, irmão! Porque demoraste...ou queres o Tarpon servido em uma bandeja de prata!!!”
 
       O recado foi claro e, depois de umas explicações relativas à diferença na pesca de trutas, recuperei um pouco de minha autoestima.
 
       Passaram outros 15 a 20 minutos e se repetiu o pique, sem reação, e um novo esporro (com bom humor) de Guareque...”Irmão,tem estrangeiros que vem por uma semana e não têm uma única ação!!”. Prometi que no próximo pique o fisgaria, na verdade falhei uma vez mais, e já estava com três piques de bons Tarpons e nem os tinha sentido...e olha que eu me considerava um bom pescador depois de 20 anos arremessando moscas a cada folga que encontro para pescar.

 
 

       Troquei idéias com Guareque para corrigir os erros, recuperei meu ânimo com os comentários do guia. “Alejandro, tenha paciência, há pescadores que gastaram uma fortuna e pegaram um só Tarpon em toda a vida...”
 
       Reconfortado com o comentário, me concentrei e me lembrei de Santo Expedito, que poderia ser uma ajuda nestas circunstâncias difíceis. E não errei, novo toque sutil e esta vez estirei a linha com força, tendo como resposta imediata um salto de um Tarpon enorme, 30 a 35 kg, seguido de linha frouxa. Bom, depois de tudo era um bom progresso, pelo menos fisguei e vi o peixe.
 
       E assim terminou à tarde, com uma mistura de frustração e ansiedade por sentir um Tarpon fisgado, mas a tarefa não estava completa.

 

       O entardecer no porto, com as cores do céu e do mar caribenho merecem um comentário à parte, assim como os pelicanos atrás dos cardumes de sardinhas e, certamente, os bares em frente ao mar.
 
       A noite nos recebia plácida e nos presenteava um bom descanso, interrompido pelas primeiras luzes da manhã. Começam as atividades, aparecem os guias, as garrafas d’água, sucos de frutas, sanduíches e o café, com certeza colombiano, que enche o ar com seu aroma inigualável. Despedimos-nos de Enrique, que nos deseja a sorte tradicional e vamos rumo ao mesmo lugar da tarde anterior. Conosco, está o barco dos amigos franceses companheiros de hospedagem. Um pouco distante está um barco com 2 pescadores americanos.
 
       E tudo fica pronto, a mesma mosca selecionada e um líder que mais parece um cabo de reboque.
 
       Não passa muitos minutos e começa a atividade dos Tarpons. O pique está frouxo, apesar de ver-se muita atividade, levando a muita ansiedade e expectativa. Prontamente, um francês grita: Vamos!!Vamos!! um acrobático salto de um Tarpon estupendo e... adeus amor, o líder arrebenta.

 

       Os americanos tentam com arremessos longos, assim como eu, até que Guareque me recomenda fazer arremessos curtos direto em direção à cabeça do peixe. Sigo a instrução e dali a pouco meu primeiro Tarpon... Sim, desta vez está bem fisgado!!! Uma corrida forte, saltos e mais corridas que terminam em várias fotos depois de uns trinta minutos de intensa luta. A alegria é enorme, era meu primeiro Tarpon, seu tamanho nada desprezível, uns 20 kg; aplausos dos franceses e os americanos muito calados e concentrados na sua atividade.

 
 

       E assim foi a manhã, 3 Tarpons mais de tamanho semelhante, 2 para os franceses e nada para os americanos. Quando quase desarmávamos as varas para comer, vi aparecer um monstro, um Tarpon enorme de mais de 50kg sem dúvida.Um arremesso rápido e o monstro estava fisgado. Guareque gritava como louco, um salto impressionante e o início do fim, uma corrida que levou toda a linha e 200 metros de backing apesar da força do freio do carretilha. Nunca antes havia tido uma experiência assim e,na verdade, duvido que se repita. Não houve lamentos, a natureza se mostrou em todo o seu esplendor, desta vez foi vitorioso o animal.

 
 

       A terceira e final jornada começou mais cedo, às seis e meia da manhã. O dia estava nublado e com forte vento, o que turvou a água antes cristalina. Nos deslocávamos duzentos metros mais ao sul; o mesmo ritual, um líder forte e a mesma mosca preparada por Guareque. Nenhuma ação nos primeiros 45 minutos, apesar de Tarpons de bom tamanho nos “rodear”. Perguntei ao meu guia o que se passava e ele me respondeu que deveríamos esperar que o sol esquentasse, porque os peixes estavam apenas “brincando”. Minutos depois ordenou ao capitão que se posicionasse a alguns metros da praia, o sol aquecia o ambiente com força e não demorou o primeiro ataque, seguido de um forte tirão e estava engatado o Tarpon. A história se repete, salto e corrida digna de um grande campeão, desaparece a linha e o backing começa a se esgotar. Depois da experiência do dia anterior, Guareque gritou ao capitão “Siga rápido!!!” e você “aguente como possa!!!”. Depois de 45 minutos conseguimos embarca-lo, um exemplar de umas 50 libras, com direito a fotos e palmadinhas. O dia havia começado bem.

 

       Voltamos à mesma posição, seguiam os rodeios, pareciam golfinhos em um parque da Disney. Prontamente vimos na nossa frente um exemplar magnífico, sem dúvida o maior que havíamos visto esta manhã. Segui-o atentamente calculando onde ele apareceria novamente, a vara pronta para agir, a visão fixa e um arremesso de 15 metros, bem em frente à cabeça e o grito imediato de guareque: “Ferra, ferra que ele já tomou a mosca!!!”. Eu não via nada, até que senti o toque imperceptível das tomadas anteriores e automaticamente ferrei usando a mão esquerda baixando ao mesmo tempo a vara (esta é a técnica usada nos Tarpons) e o troféu estava engatado. Foi uma corrida incrível, claramente meu equipamento não era o recomendado para esta batalha, mas eu não estava disposto a render-me assim no mais, nem o Guareque. Seguimos o tarpon mar a fora por quase três milhas.

 
 
 

       As corridas e saltos se sucederam e quando pensávamos que estava cansado, subia a superfície e tomava fôlego, recobrando toda sua força, fazendo desaparecer novamente a linha e backing do carretel. Revezamos-nos várias vezes na luta para poder agüentar, foram quase três horas de “batalha titânica”. Que alívio e alegria quando ele “pranchou” e mostrou sua barriga brilhante. O grande Sábalo de Los Roques era nosso, o levantamos com esforço,era um exemplar de 120 libras, segundo Guareque. A pesca estava terminada, era um final de conto de fadas e teria que correr para não perder o avião de regresso a Caracas.
 
       Assim terminou esta aventura em Los Roques, Venezuela, foram três dias inesquecíveis e só me resta dar graças a Deus por tanta maravilha, apesar de eu ser minúsculo em matéria de fé, algum dia espero voltar.