Surpresas

Texto:Elias Lemos
E-mail do autor: eliasfly@terra.com.br
Fotos:
Sergio Marchioni e Elias Lemos


       Geralmente programamos uma pescaria com uma certa antecedência; nosso objetivo é um determinado peixe. Os dias que antecedem a data marcada, são acompanhados de ansiedade e as horas tornam-se intermináveis.
 
       Separamos as isca que julgamos ser as mais produtivas, revisamos os equipamentos, varas, linhas, óculos, roupas, iscas e outras parafernálias que achamos ser necessário.
 
       Parecemos jovens apaixonados se preparando para o primeiro encontro, imaginamos o local adequado, ensaiamos a melhor maneira de cortejá-la, oferecemos o melhor presente e esperamos em troca apenas o beijo fatal, aí por um motivo ou outro a garota nos da um belo cano.
 
       Com a pescaria, é a mesma coisa. No dia tão esperado, entramos no barco e partimos direto para aqueles que julgamos ser os melhores pontos; jogamos nossas iscas na água; trabalhos lentos, rápidos, superfície, meia água, trocamos de iscas, mudamos de ponto é nada do tão esperado peixinho aparecer. O que fazer?
 
       Tempos atrás, eu e o Sergio Marchioni (100), marcamos uma pescaria de bass para o meio da semana. Chegamos na marina às 7:00 horas; varas montadas, barco na água, partimos para o primeiro ponto, chegando ao local, começamos nosso trabalho com poppers. Mudamos para streamers, mudamos de ponto, trabalho, iscas e mais iscas nada do tal peixe aparecer.

 
 

       Às 15:00 entramos numa determinada grota e recomeçamos todo ritual. Por se tratar de uma grota muito extensa com vários tipos de estruturas, depositamos neste ponto nossa última esperança, batemos galhinho por galhinho, cercas, pedras, tocos, raízes, drop off, vegetação, todos os cantinhos onde houvesse a possibilidade do bass se abrigar. Chegando no fundo da grota, encostamos o barco numa galhada; meu parceiro pegou uma caixinha cheia de ninfas e falou: "Se não tem bass, vai tilápia mesmo!"

 

       Escolheu uma GLASS BEAD PEACOCK NIMPH e começou o trabalho; alguns pinchos depois lá estava ele com uma pequena tilápia na ponta da linha.

 
 

       Concentrei meu arremesso numa estrutura formada de pedras. Logo no primeiro pincho senti uma pancada seca e logo em seguida outra; não deu nem tempo de fisgar. Comentei com meu parceiro: "Alguma coisa bateu e com certeza não é tilápia." Dei novo arremesso e arrastei a isca lentamente, veio o ataque certeiro. Quanto fisguei, percebi que a linha corria em minha direção, levantei a vara rapidamente e acelerei o recolhimento para evitar que a linha afrouxasse; repentinamente o peixe começou a tomar linha em direção ao meio da represa e logo em seguida veio o primeiro salto: "Que é isso?" indagou meu parceiro, "Não sei mas com certeza não é tilápia e nem bass", respondi. Ele deu um pick up e colocou sua isca bem próxima a estrutura de pedra e em seguida veio o ataque do desconhecido peixe, assim que fisgou, sua linha se rompeu sem dar chance alguma ao pescador.
 
       Com a adrenalina lá em cima, só pensava em ver o que era aquilo que insistia em pular lá longe, aos poucos o peixe foi cedendo e entregou-se cansado. Inacreditável... nosso amigo saltador era uma tabarana!!

 
 
 

       Na verdade, a linha do meu amigo não havia se rompido e sim cortada. Tudo indicava que estávamos em cima de um cardume, e recomeçamos os arremessos. Já no primeiro pincho tivemos um duble e na primeira corrida, minha linha foi cortada. Meu amigo trabalhava o peixe com calma enquanto este promovia corridas intermináveis e saltos espetaculares, entregando-se em seguida para a seção de fotos.

 
 
 
 

       Entre peixes, corridas, saltos e linhas cortadas, o tempo foi passando. Repentinamente, da mesma forma que começou, tudo parou; procuramos por outras estruturas em busca do cardume, em um dos arremessos o 100 fisgou um peixe. Enganados pela corrida inicial, julgamos ser outra tabarana, mas na verdade era um piau flamengo.
 
       Vasculhamos cada canto da grota em busca das tabaranas, apesar da nossa insistência, não conseguimos encontrá-las novamente, mas tivemos muitas ações de outros peixes antes do por do sol.

 

       Muitas vezes, batemos o tempo todo e terminamos por perder o dia de pesca simplesmente por não tentarmos novas opções; não acredito que mudança de opinião ou atitude seja uma forma de desistência, mas sim uma maneira de fazer novas descobertas.
 
       Se a velha namorada te der um cano, parta para outra; talvêz a nova te proporcione maior prazer.

 

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